Eduardo Pacheco Jordão
Engenheiro, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Membro Titular da Academia Nacional de Engenharia (Brasil)
Entendo esse termo “reusar” como “usar novamente”, ou “usar mais de uma vez”. Fui consultar o dicionário, e ele diz “ter por costume, por hábito”, “empregar, praticar”. Mas como estamos falando de “reuso da água”, como é que uma água pode ser usada mais de uma vez? Essa água já não estaria poluída após o uso inicial? Como é que vamos usá-la novamente.
Na minha opinião, no meu modo de ver, é perfeitamente possível usar uma água mais de uma vez, corrigindo sua qualidade após o primeiro uso, de maneira a torná-la adequada ao que vamos chamar simplesmente “reuso”. É preciso antes, no entanto, entender que a água é um bem de domínio público, é um recurso natural limitado, e um bem de valor econômico. Com tal entendimento devemos aceitar três corolários básicos, que são: a) a necessidade da conservação da água; b) a redução da poluição na fonte, ou através de um tratamento adequado; c) o correto gerenciamento dos recursos hídricos.
Com esse conceito estamos buscando a otimização do uso de nossos recursos hídricos, aceitando a prática do reuso de águas servidas, mas com a preocupação em bem utilizar processos e manejo adequados para produzir essa “nova água” – que deverá atender todos os requisitos técnicos e legais, ser produzida a um custo razoável, e ser aceita pela população.
E como podemos entender a utilização dessa água? Vamos expressar um pouco algumas possíveis formas de reuso:
a) Reuso urbano: em torres de resfriamento, em hidrantes contra incêndio, em vasos sanitários de banheiros públicos, em estabelecimentos de lavagem de carros, em lavanderias comerciais, em jardins públicos, na lavagem de ruas, por exemplo; há que se observar, no entanto, que a instalação de duas redes de abastecimento de água – a convencional, destinada ao consumo, e outra de reuso, irá encarecer sobremaneira o sistema de distribuição, gerando custos muito elevados que devem inviabilizar essa solução;
b) Reuso em áreas descentralizadas: é possível, porém, praticar o reuso com segurança em áreas descentralizadas, onde grandes unidades comerciais possam estar localizadas;
c) Reuso em irrigação de áreas cultiváveis (agricultura): irá requerer manejo adequado para não ocorrer colonização e salinização.
Há dois pontos importantes a serem observados quando se deseja praticar o reuso: o primeiro diz respeito a se manter uma qualidade da água de reuso o mais possível consistente, isto é, estável e praticamente dentro de limites predeterminados, de acordo com o uso desejado para essa água; o segundo ponto diz respeito à total disponibilidade da água de reuso, que não deverá faltar em hipótese alguma – seu fluxo deve ser contínuo, ou garantido por reservatórios de distribuição. O uso de uma rede de dupla distribuição, uma convencional e uma de reuso, embora possível, encareceria os custos de forma indesejada.
Que a água é importante, não há dúvida! Todos nós consumimos água – no preparo das refeições, quando temos sede bebemos água, usamos água na higiene, na limpeza, é fundamental na indústria para a fabricação de um sem número de produtos, e não se poderia imaginar o mundo sem a água que conhecemos e usamos!

Na verdade, quanto mais adiantado e industrializado um país, maior é o consumo praticado, mais exigente se é em relação à qualidade da água disponibilizada para a população, maior o controle sobre os efluentes domésticos e industriais lançados nos corpos receptores, e mais restritivos são os padrões de qualidade, seja para consumo humano, seja para a disposição final dos esgotos gerados. Como consequência, ao se praticar o reuso deve-se estar preparado para manter inalterados os dois pontos que mencionamos acima: a qualidade consistente, e a disponibilidade garantida. Viva o reuso!