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Reúso de Água no Brasil: um pouco da história e perspectivas futuras

Prof. André Bezerra dos Santos

Universidade Federal do Ceará
Ex-Coordenador da RENTED

Prof. Suetônio Mota

Universidade Federal do Ceará
Ex-Coordenador do PROSAB

As pesquisas sobre o reúso de águas no Brasil não são recentes e se iniciaram nos primeiros anos da década de 1980, fortemente influenciadas pelas práticas já realizadas principalmente nos EUA e em Israel. Alguns trabalhos isolados sobre reúso de água foram desenvolvidos, podendo-se citar a pesquisa que resultou na tese do concurso para Professor Titular do Professor Suetônio Mota, da Universidade Federal do Ceará, intitulada “Aplicação de Esgoto Doméstico em Irrigação”, em 1980. Contudo, não havia grande sinergia entre os grupos de pesquisa no Brasil.

De fato, o tema avançou fortemente com a criação do Programa Nacional de Pesquisas em Saneamento Básico (PROSAB) pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) no ano de 1996. Nesse programa, conseguiu-se a formação de redes de pesquisas temáticas coordenadas por um comitê gestor/científico, reunindo diferentes grupos das regiões da federação, e desenvolvendo pesquisas por mais de dez anos. Deste modo, foram avaliados aspectos de qualidade de efluentes tratados em diferentes tecnologias de tratamento de esgoto, aspectos agronômicos ligados ao desenvolvimento das culturas e produtividades, impactos no solo em curto, médio e longo prazo, métodos de irrigação adequados, assim como as várias possibilidades de reúso para além do agrícola, como piscicultura, urbano, hidroponia, paisagístico, entre outros.

Nesse mesmo período, várias pesquisas avançaram no tocante ao uso racional da água e à separação de correntes na fonte, com destaque ao reúso de águas cinza em edificações. Pesquisas ligadas à Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), Avaliação Quantitativa de Risco Microbiológico (AQRM) e Estudos de Viabilidade Econômica (AVEC) complementaram os demais estudos, e ajudaram na criação do arcabouço legal e técnico para uma maior prática do reúso de água no território nacional. Com o término no PROSAB, outras redes trabalharam na temática, como a Rede Nacional de Tratamento de Esgotos Descentralizados (RENTED), também financiada pela Finep.

As tendências nacionais e internacionais de pesquisa incluem avaliações de tecnologias emergentes de tratamento de esgoto para produção de água de reúso, possibilidades do reúso de águas industriais, implantação/AVEC de projetos de reúso em escala plena, criação de ferramentas de benchmarking e indicadores para implantação e monitoramento de projetos de reúso, entre outras. Por fim, entende-se como essencial um avanço maior no tocante a uma legislação em nível nacional com parâmetros e critérios mais específicos, assim como a um arranjo institucional de gestão, contando com incentivos fiscais para implantação de projetos de reúso, assim como para a realização de pesquisas que ajudem no aumento da experiência no tema, assegurando-se assim a sustentabilidade ambiental e financeira. 

Maíra Lima

Mestranda em Engenharia Ambiental na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2021). Engenheira Ambiental e Sanitarista pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2019). Possui graduação em Gestão Ambiental pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (2014). Pesquisadora do grupo de pesquisa Reuso de água - Tecnologias, Gestão e Governança

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