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Economia circular começa com a água

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Gesner Oliveira

Sócio executivo da GO Associados e Professor da Fundação Getúlio Vargas

O saneamento no Brasil possui péssimos indicadores nos quatros segmentos¹ que o compõem: água, coleta e tratamento de esgoto, manejo de resíduos sólidos e drenagem.

36 milhões de pessoas não possuem acesso a água tratada, cerca de metade da população não tem coleta de esgoto, 2 milhões de domicílios estão sob risco de inundação e mais da metade dos resíduos coletados são dispostos de forma inadequada, incluindo mais de 1.500 lixões².

Cálculos recentes de necessidade de investimento para a universalização em água e esgoto indicam que será preciso triplicar o atual nível de investimento anual em água e esgoto para atingir a meta de serviço universal na próxima década. Seria ilusório pensar que tal desafio gigantesco deveria ser enfrentado antes para, apenas em uma segunda etapa, tratar dos temas de ESG e economia circular.

Isso porque há sinergias importantes a serem aproveitadas para aumentar a viabilidade econômico-financeira dos projetos de saneamento quando se aproveitam receitas adicionais oriundas da reutilização.

A economia circular é fundamental para o desenvolvimento do setor. A reutilização da água constitui exemplo neste sentido. A produção de água para reúso mediante tratamento do efluente do esgoto doméstico deveria fazer parte do aumento da oferta e de diversificação da matriz hídrica.

No entanto, o potencial do reúso de água é subexplorado no Brasil. Estima-se uma oferta potencial de 12 m³/s, variável nas diferentes regiões do país na razão inversa da disponibilidade hídrica.

Vários modelos podem ser implementados, como atendimento a pólos industriais mediante implantação de infraestrutura específica para clientes-âncora, distribuição através de logística de transporte dentro de determinados raios das estações de tratamento ou recarga de mananciais, entre outros.

Cada um deles exige um estudo de viabilidade específico com fluxos de caixa diferenciados no Capex e Opex. A política pública pode ajudar mediante regulação indutora de inovação (p.e. compartilhando receitas acessórias), tratamento tributário que incentive a reciclagem da água residual e difusão do conhecimento técnico especializado e para o público em geral de forma a promover a ampliação do mercado. 


[1] Água, esgoto, drenagem e resíduos sólidos urbanos

[2] Lixão é uma forma inadequada de disposição final de resíduos sólidos, que se caracteriza pela simples descarga do lixo sobre o solo, sem medidas de proteção ao meio ambiente ou à saúde pública

Maíra Lima

Mestranda em Engenharia Ambiental na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2021). Engenheira Ambiental e Sanitarista pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2019). Possui graduação em Gestão Ambiental pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (2014). Pesquisadora do grupo de pesquisa Reuso de água - Tecnologias, Gestão e Governança